Sunday, September 21, 2008

Papás antes do tempo

Eram adolescentes comuns, mas a vida pregou-lhes uma partida. A cegonha chegou mais cedo e, com ela, vieram as responsabilidades.

Hoje em dia, são muitos os adolescentes que são pais sem o terem planeado. Muitas vezes, o desleixo é a principal causa, uma vez que, grande parte dos jovens não usa métodos contraceptivos.
No entanto, outra das grandes causas é a falta de informação. Foi o que aconteceu a Rúben Caetano, de 20 anos. “A Nádia, que era minha namorada na altura, costumava tomar a pílula, mas não sabia que o antibiótico cortava o efeito”, conta Rúben. Ao fim de seis meses de namoro, e apenas com 17 anos, o jovem soube que ia ser pai. “Senti felicidade, porque ia ter um filho meu, mas também tive muito medo, por sermos ainda uns miúdos”, revela. Chegaram a pensar em aborto, mas na altura ainda era preciso ir a Espanha e “era muito caro, não dava”. Hoje, Rúben olha com grande ternura para o seu filho Diogo, de 2 anos, dizendo “ainda bem que não desistimos do menino”, e relembra todo aquele período conturbado depois da notícia da gravidez. “Foi um grande choque para todos; para mim, para ela, para os meus pais… Mas todos tivemos de aceitar o que aí vinha”, recorda. Mesmo assim, Rúben tem prazer em lembrar o apoio dos seus pais, “muito apoio psicológico e, por vezes, apoio monetário”.
À medida que o período de gestação evoluía, Rúben tudo fazia para estar o mais presente possível. “Fui a todas as consultas e ecografias e dei sempre o máximo para acompanhar todo o processo”, garante. Assim que o Diogo nasceu, as coisas tornaram-se mais complicadas entre o casal e a separação foi inevitável. “As discussões aumentaram cada vez mais, por causa do stress e ter um filho e por não termos esperado esta situação”, revela.
Actualmente, Rúben é estafeta da empresa de publicações Impala e diz ganhar para os gastos, apesar de ter alguns meses “complicados”. O jovem deixou de estudar a meio do 10º ano, assim que soube que ia ser pai, e começou a trabalhar. Os horários por turnos tiraram-lhe a hipótese de voltar a estudar, mas Rúben pensa, de vez em quando, em emigrar. Porém, “podia ficar sem o Diogo, e não ia aguentar isso”, assegura. Além disso, já está junto com outra pessoa, “que também já tem uma filha”, e essa estabilidade não seria garantida com uma vida no estrangeiro. Costuma estar com o seu filho duas vezes por semana e deixa uma declaração que dá que pensar: “Quando temos um filho, ganha-se outra maneira de pensar e de agir. Somos obrigados a crescer mais depressa, por causa das novas responsabilidades.”
Estas responsabilidades ganham-se, mas só depois de grandes mudanças. É que, para o comum dos adolescentes, não existe grande preocupação com os problemas que podem surgir através de uma gravidez precoce. Estima-se que, em Portugal, cerca de 40 por cento dos jovens entre os 20 e os 24 anos não use qualquer tipo de método contraceptivo. Em relação aos jovens entre os 15 e os 19, os valores descem para uns preocupantes 80 por cento.
Um destes adolescentes era Davide Valente. Actualmente com 19 anos, segura agora a pequena Miriam, de 2 anos, com orgulho. Nesta altura, admite sem medos nem vergonhas que “pensava que essas coisas só aconteciam aos outros”. Por isso, não se preocupava com métodos contraceptivos. “Ela tomava a pílula, mas de vez em quando esquecia-se”, conta Davide sobre Ana, a mãe de Miriam. Quando descobriu que ia ser pai, pensou logo em pedir à mãe da criança para abortar. “Eu ia perder tudo: estava no 8º ano, só queria brincadeira, tinha 16 anos, e por tudo isso é que não queria ser pai. Mas, no fundo, estava muito feliz porque era sangue do meu sangue”. Com um sorriso aberto e um brilho nos olhos, revela que “valeu muito a pena ter seguido em frente com a gravidez”.
Mas Davide teve um apoio incondicional da sua mãe, que veio a revelar-se fundamental para garantir o bem estar da menina. Além disso, acompanhou e apoiou sempre Ana durante a gravidez, mas as discussões subiam de tom. “Ela achava sempre que eu fazia pouco, mas era uma grávida muito chata, estava sempre a fazer exigências”, revela. Ao fim de pouco tempo, o namoro de ano e meio não aguentou mais, mas a amizade persistiu e ainda hoje são bons amigos.
Nos dias que correm, Davide encontrou a sua vocação no exército, onde está durante toda a semana. Aos fins-de-semana, guarda todo o tempo que tem para estar com Miriam, mas sabe-lhe a pouco. “Sinto-me um bom pai, mas queria fazer mais e estar mais tempo com ela, mas não posso estar mais presente, por causa do meu trabalho.” Outro problema é o dinheiro. Davide sente que ganha o suficiente para sustentar Miriam, mas se um dia quiser juntar-se com outra pessoa, sabe bem que a vida vai tornar-se mais difícil.
Ao olhar para trás, Davide orgulha-se daquilo por que passou. “Apesar de ter sido difícil, voltava a fazer tudo exactamente da mesma forma”, assegura.
Em Portugal, este tipo de casos é comum. Cálculos recentes demonstram que 5 por cento dos nascimentos resultam de relacionamentos entre adolescentes. A prevenção passa pelo uso de métodos contraceptivos, mas também pelo acompanhamento médico desde cedo. Se os próprios pais dos adolescentes puserem de parte os tabus e derem a informação necessária aos seus filhos, talvez muitas situações problemáticas sejam evitadas. Nos casos em que os jovens não se sinta à vontade para falar deste assunto com os pais ou mesmo com familiares ou amigos mais velhos, os adolescentes com problemas ou dúvidas em relação a tudo o que tenha a ver com relações sexuais podem contactar a Sexualidade em Linha (808 222 003) para ver respondidas todas as suas questões.
Aos 22 anos e um pouco mais elucidado sobre a vida, José Carlos Belo vê em Iara, de 5 anos, a alegria dos seus olhos. Com uma enorme boa disposição e sempre pronto para brincar com a sua filha, este jovem pai começou este novo capítulo da sua vida com apenas 17 anos. Ao conhecer a mãe de Iara, teve de imediato um curto relacionamento com ela. José Carlos garante ter sido só uma “curte” e não teve receio de ter relações sexuais sem preservativo. “Ela disse-me que tomava a pílula, mas fui enganado”, admite. Assim que a mãe de Iara revelou que estava grávida, José Carlos não acreditou que o filho fosse dele. Mesmo assim, ainda a acompanhou nalgumas visitas ao médico e em duas ecografias, e algo lhe dizia que o bebé que aí vinha era dele. “Assim que vi os dedinhos a mexer, na ecografia, vi logo que era minha filha”, diz em tom de brincadeira.
Quando contou aos pais, a reacção destes foi bastante positiva. “Somos quatro irmãos e só faltava eu para todos termos filhos.”, justifica. Mais tarde, veio a descobrir que a mãe de Iara quis engravidar para o “prender”, mas ele nem quis pensar em ficar com ela.
Quando Iara nasceu, os testes de ADN comprovaram a paternidade e José Carlos lutou pela custódia da menina. A mãe desistiu da “guerra” e fugiu para África. Com apenas 17 anos, o adolescente ficou com uma filha nos braços, mas não desanimou; tão jovem e era já um pai dedicado ao bem estar da sua menina.
Actualmente, José Carlos tem dois empregos para poder sustentar a família: é empregado de balcão e trabalha numa loja desportiva em part-time, tudo no Centro Comercial Colombo. Já vive junto com Andreia, de 18 anos, que assume o papel de mãe de Iara, apesar de ambos explicarem a situação à criança, sempre que podem. Com o 8º ano, o jovem ainda pensa em voltar a estudar, mas lamenta-se com o tempo – ou a falta dele. Mesmo assim, não se queixa e passa o tempo a sorrir, dizendo que está “muito feliz” com a vida que leva e até já pensa em ter outro filho. “Já está nos planos”, revela, “mas o que eu queria agora era um rapaz.” E dinheiro? Não faz falta? “Claro, mas eu penso que, onde come uma boca, comem sempre duas ou três”.

Nelson Nunes

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

BEM...

Se te esforçás-te para escrever este "artigo", não parece... Não é objectivo nem mostra vários lados da questão, histórias felizes não cabem na capa...

Li isto e pensei... "Mas o teu objectivo é alguma coluna na Revista Maria?"

Se ao menos está bem escrito?
Sim.
Mas milhares fariam igual ou melhor...

September 22, 2008 8:58 AM  
Blogger Nelson Nunes said...

Caro "Crítica Construtiva",

Tenho algumas coisas a dizer relativamente à minha "coluna na revista Maria".

1. Não sei se sabe como funciona uma redacção, mas normalmente os jornalistas não escrevem o que lhes apetece... O editor (sim, ele existe e é ele que dá os temas e os trabalhos aos repórteres) pede para se fazer um certo tipo de reportagem e o jornalista tem de a fazer, com a melhor qualidade possível.
2. Não sei se costuma ler revistas além da Maria, mas certamente já teria notado que, todas as semanas, há reportagens deste género em publicações de qualidade como a Visão ou a Sábado.
3. A reportagem foi publicada pela revista FOCUS, eu só cumpri o meu trabalho. A escolha de um tema é uma questão muito diferente do que se escreve... Se um dia compreender como se trabalham notícias e reportagens, talvez possa perceber melhor porque é que saem estas "histórias felizes".

P.S. - Se tiver mais alguma "crítica construtiva" a fazer, peça-me o contacto do meu director. Ou então abra uma revista decente, nos seus parâmetros de qualidade, claro...

Cumprimentos,
Nelson Nunes

October 14, 2008 8:58 AM  
Blogger Nelson Nunes said...

Caro "Crítica Construtiva",

Sugiro-lhe que compre o Público que saiu hoje (domingo, 19 de Outubro) e observe bem a capa. Se não conseguiu comprá-lo, eu digo: a imagem da capa menciona uma reportagem sobre PAIS ADOLESCENTES. Parece que, afinal, histórias felizes fazem capas. E a minha "coluna da revista Maria" entrava facilmente no melhor jornal de Portugal.

Cumprimentos,
Nelson Nunes

October 19, 2008 5:12 AM  

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